quarta-feira, julho 29, 2009

Sem Jeito

Não tem jeito. Sou feliz e nostálgica. Curto cada instante. Gosto de perceber imperceptibilidades. Amo as entrelinhas do texto, as sutilezas do olhar e do sorriso. Mas lido mal com as saudades. Não me conformo com o galope do tempo, que some com os meus queridos. Perder dói demais. Adoro álbuns. Revejo fotografias, antigos sorrisos, a saúde inabalável dos que estavam vivos e sei, vou passar o dia acabrunhada. Há lugares que agulham o meu coração.

Não tem jeito. Sou desembaraçada e introvertida. Enfrento os espaços públicos com desenvoltura. Sei falar com uma multidão. Debulho argumentos com a oratória. Comunico e ilustro. Minha dicção é razoável. Disfarço o sotaque. Também transito com certa facilidade em espaços privados. Entro e saio de pequenas reuniões com traquejo. Travo, porém, nos ambientes íntimos. Nutro a sensação de que certos segredos da alma devem acompanhar-me ao túmulo. Gaguejo quando preciso explicar o porquê de alguma atitude. Hesito em abrir os porões da alma.

Não tem jeito. Sou quieta e nervosa. Gosto de ficar em casa, do cheiro do meu travesseiro, de ver a noite engolir o dia, de dias chuvosos, de silêncio. Por outro lado, inquieto-me com pensamentos enlatados. Fico frenética com a tensão das idéias. Discuto com as veias do pescoço. Quero perguntar, seguir adiante com inquietações. Permitir que a navalha da dúvida corte qualquer crença absolutizada por minha preguiça. Gosto de anarquistas, livres pensadores, poetas, trovadores e escritores, que trucidam o texto com metáforas arrasadoras.

Não tem jeito. Sou esperta e ingênua. Sou vidente para perceber a maldade e a leviandade. Mas acredito na amizade de quem jura companheirismo. Tenho intuição feminina para notar hipocrisia. Mas acho que todos os meus conhecidos são leais. Noto lágrimas forçadas. Mas não me protejo do estilete de quem imaginava querido.

Não tem jeito. Sou corajosa e covarde. Ouso e depois tremo. Arrojo e depois lamento. Escrevo, posto e depois choro. Às vezes escrevo coisas que deveria manter escondidas. Para manter o sucesso prematuro, que me fez conhecida de caciques religiosos, eu deveria me amordaçar. Todavia, sou inconsequente. Aceito, tempestivamente e de peito aberto, o ringue dos debates. Acabo destroçado pelos argutos professores de teologia. Recebo a pecha de herege, tola e boba. Ferida, penso em me aposentar. Sumir para um lugar ermo. Desaparecer da internet. Mudar de nome e frequentar o clube literário da cidade; simplesmente viver.

Não tem jeito. Sou teimosa e hesitante. Digo: vou continuar com a determinação do jagunço, com persistência da rendeira, com a dureza do jangadeiro. Pouco depois, quero tirar o site do ar, sair daquele curso que quis tanto entrar. Dizer aos meus muitos críticos que eles têm razão: mereço o fogo mais intenso do inferno; não deveria expor o esforço de ser eu mesma. Tem horas que penso revidar, espinafrar partir para o ataque. Contudo, sem mais nem menos vem a vontade de pedir a todos que tenham misericórdia de mim; como não posso arvorar-me a nada, condeno-me a ser uma eterna aprendiz.

Recebi este texto hoje cedo e foi como ver-me nua frente ao espelho...por isso está sem aspas, com algumas adptações e poquíssimos acréscimos.
Ta aí mais um motivo que me aproxima de tão admirável pastor Ricardo Godim.

Soli Deo Gloria!!!

quinta-feira, julho 02, 2009


Morar em Brasília

Estou morando na capital da corrupção, digo da Nação.
Aquela minha querida cidade grande com ares provincianos ficou para trás. Ficou também o calor humano, a receptividade, a proximidade, das casas, dos lugares, dos laços de amizade.
Brasília não tem essa intimidade, tampouco identidade, é totalmente pró-atividade! Aqui tudo acontece e de onde tudo pode mudar lá fora, com uma simples assinatura no Planalto. Talvez por isso as pessoas aqui sejam tão frias, arredias e andem com tamanha pose nas ruas.

Tudo exala poder, status, posição social, e a maioria sonha com um cargo. Seja político ou estatutário.
Em Brasília não existem apenas os candangos arruaceiros que dão trabalho para a polícia goiana, aqui tem um mundo e é isso que me fascina. Vários são os sotaques e fisionomias que encontramos na rua, o Brasil inteiro está aqui, por isso não é a cidade do “pão-de-queijo” ou da “garoa”, é simplesmente Brasília. Uma miscelânea eclética, o que me permite viver bem dentro desse enorme caldeirão cultural, já que não sou estrangeira em terra de alguém, sou apenas mais uma forasteira em terra de todo-mundo e de ninguém.

Há pouco mais de três meses que estou aqui, e a maioria das pessoas com quem pude me relacionar vem de diferentes regiões e cidades, parece que estou naquela região turística, por isso o próprio sotaque do brasiliense é essa grande mistura fonética, predominantemente nordestina, oxi, uma graça!
Essa é a graça que enche meus dias nessas ruas largas e tumultuadas por carros apressados e mal educados, que se camuflam nos controladores de velocidade espalhados e nas inúmeras faixas de pedestres a cada 1oom, uma loucura. E o que dizer dos viadutos e “tesourinhas” que fazem todo condutor desavisado se perder. Eu mesma já me perdi inúmeras vezes, mas também é fácil se encontrar, ainda bem.

Apesar dos problemas de âmbito pessoal e estrutural, o caldeirão cultural borbulha. Teatros, shows, culinária, exposições variadas somadas aos diversos locais abertos ao público acontecem todas as semanas, sempre existirá uma opção para o ócio criativo no final de semana.

Dizem ainda, que o céu de Brasília é o mais bonito, acho que sim e talvez isso se deva ao fato da cidade se localizar em elevada altitude e em terreno tão plano, um privilégio.
Brasília é assim mesmo, cheia de prós e contras, do tipo que não cabe um “mais ou menos”, e quanto a mim....bem, estamos nos conhecendo.