segunda-feira, janeiro 21, 2008

Meus cinco anos...

O início da minha caminhada universitária me dava uma constante sensação de ter caído de pára-quedas naquela segunda opção de curso. Um estranho sentimento de não pertencer àquele mundo de leis que insistia em apresentar-se a mim. Mas, como a estudante dedicada de sempre, nunca deixei a desejar nas salas com acaloradas discussões ética-filosóficas e nas notas que me fazia conhecida pelos professores.
No entanto, era nos intervalos, nas tardes de caloura, nos finais de semana e mesmo no meio de uma aula cansativa que eu e as amigas lindas, Tha e Vivi, que ganhei logo nos primeiros dias, discutíamos nossos dramas psicológicos. Era a faculdade pública que tinha ficado pra trás, a cidade que não se conheceria mais, o curso tão iludidamente desejado que não preencheria mais. Então o que fazer?!
Estudar desesperadamente para outro vestibular não era a idéia mais tentadora, preferimos prosseguir. Juntas, pensamos, seria mais fácil, ao menos mais divertido os próximos cinco anos.
Entretanto, já logo nos primeiros meses foram inúmeras mudanças. Colegas deixando a classe para trás e prosseguindo em busca de outros cursos, outros rumos. Nós permanecemos. Firmes nem tanto, mas unidas, compartilhando os temores, os segredos, as fossas, as alegrias, as vitórias, as provas, os conhecimentos. Algo valeria a pena.
Eu, na minha ânsia de querer mais, acabei fazendo outro vestibular. Estudava no amanhecer do dia, e no cansaço da noite ia para um cursinho relembrar as matérias para o vestibular. Várias foram as aulas que dediquei aos livros de literatura, e minhas fiéis escudeiras me ajudaram a não me perder em tantas matérias. O surpreendente foi ter feito a inscrição para o mesmo curso que eu desejava abandonar...vai ver já estava apaixonada sem sabê-lo. A Federal mais uma vez abriu a portas e alimentou a esperança com a 1° fase, mas me bateu a porta na cara com a 2°.
Decidi esquecer tudo isso e terminar o que tinha começado...ali mesmo, na faculdade particular que nunca pensei em estudar. Odontologia que já não me causava devaneios foi ficando de lado.
Veio então aquela viagem de férias que me fez esquecer completamente da matrícula, me obrigando a mudar o turno. Pessoas completamente diferentes! Até o mesmo ambiente tinha uma outra conotação, era outro mundo. Mas, foi assim que me encontrei com o Direito e ele comigo. Como se tivesse acabado de descobrir a “roda”, fiquei maravilhada! Dediquei horas em um grupo de pesquisa cientifica, projetos...aulas e matérias que me trouxeram outros, diferentes e maravilhosos sonhos. Outra vida. Desconhecida.
Nesse momento de encantamento e descobertas foi quando também fui agraciada por Deus para conhecer o amor da minha vida. Um presente sem precedentes!
As mudanças não pararam por aí...uma das minhas lindas amigas decidiu uma mudança de 360° e foi fazer Engenharia (que loucura!). Ficamos as duas Thas. Ganhamos uma irmãzinha Chialchia pra dividir a estrada e continuamos a caminhada.
Uma fascinante aula, um bom professor, uma estreita porta, um estágio. Um sonho alimentado....um trabalho na área que me mostrou a dantesca diferença entre a teoria e a prática. Entre os livros e a realidade. Uma bela experiência...que foi ainda mais interessante e divertida por poder dividir a sala, os processos e o computador com minha amiga desde antes de tudo aquilo ser.
Mas, eram já tantas mudanças que não ficaram só por aí...fui trabalhar em outro lugar, o estágio ficou pra trás, deixando marcas e saudade. As irmãzinhas também ficaram pra trás, naquela que foi a mais brusca mudança de realidade.
E entre dúvidas, incertezas entre o que fazer, o que valorizar, e no que se apegar, tive mãos e ombros pra me sustentar, os amigos de verdade com quem pude contar naquele momento...
Os grupos de trabalho mudaram, as companheiras diárias também, assim como os horários, os donos dos cadernos emprestados e seus destinatários de empréstimos. Uma beleza só! Uma diversidade de dar gosto.
O contato diminuiu drasticamente, assim como o meu tão precioso tempo, mas isso não impede uma amizade de crescer e se fortalecer, e a distância é a que tão bem é capaz de provar e comprovar os laços que nos ligam uns aos outros.
Foram grandes mudanças, mas que me trouxeram grandes surpresas, muita gente boa pra mais perto de mim, gente nova, amigos que se fizeram conhecidos. Mais riqueza. Uma boa soma, que nem por isso impediu as perdas e subtrações que existiram no começo de tudo isso...o que serviu para crescimento e aprendizado...experiência! Transformações boas.
Hoje, na reta final de mais uma etapa dessa boa dádiva que é a vida, olho para trás e me surpreendo com tantas coisas maravilhosas, tantas mudanças intensamente vividas, sofridas, aprendidas, alegremente inseridas nessa minha trilha. É bom parar pra recordar como vim parar aqui, de onde venho e para onde quero ir...é isso que me faz permanecer. Continuar caminhando mesmo quando o cansaço e a fraqueza se fazem tão presentes..caminhando lado a lado.
Nesse findar de curso, vejo tantos colegas sem rumo...sem saber o que fazer, pra onde ir, o que esperar de si e da vida que modela com outra face. Pessoas que não se alegram com a vitória de terminar uma etapa, mas que se entristecem e se apavoram com uma realidade que começa sem ter definição ainda.
Pensar assim é realmente apavorante. Assim como é o terrorismo que criam em torno da monografia. A pressão é tão grande que o que deveria ser um momento bom para reflexão de um tema que te envolva e te faça aprender e desenvolver, acaba te sugando por completo, esgotando todas suas forças.
Não imaginei que fosse viver algo assim...comecei o ano tão bem, tão empolgada, tão feliz por estar cumprindo mais essa etapa, por estar subindo mais esse degrau. Mas, assim que terminei de escrever, me senti exaurida. Consumida por completo. Uma sensação estranha que só! E talvez pela debilidade do momento, também fui acometida por uma crise-existencial-socrática-pós-moderna-universitária. Algo semelhante ao que já vinha acontecendo em efeito cascata do meu lado, atingindo meus colegas. Atingiu a mim também. Ferida, caída, sem convicção do que fazer, de que carreira seguir, no que realmente investir...foi assim que me senti. Em um labirinto dentro da alma. Dúvidas entre o que fazer, o que ser, e o que buscar para ter o quê.
Estou buscando forças e direção em Deus. Mais uma vez o Aquele que É, me levanta em amor e me incita em buscar nEle o caminho e a direção.
A vida nos dá escolhas, oportunidades, mas somos nós que temos vontades..e elas estão recheadas de temores e incertezas.....Entre o emprego estável e uma vida de mochilas, entre o comodismo e a aventura...é difícil escolher. Decidir entre o que vale a pena viver.
O que eu sei hoje é que esses cinco anos valeram muito a pena. Chego até aqui com a alma leve, com o sentimento de não apenas dever cumprido, mas realização. Uma não-vontade que se transformou numa boa realidade, um bom sonho.
Ainda não sei o que essa vida me reserva nos próximos 5 anos...o que serei, no que me transformarei, aonde estarei, trabalhando com que, ou em que lugar...não que isso me transforme em uma folha seca levada pelo vento, mas me faz crer que por mais que eu tenha uma direção por vontade própria a seguir ou ela esteja sem forma definida pelas sombras dos temores, a vida é inesperada em cada esquina, e sei que impensadas e inúmeras possibilidades podem surgir! O importante é prosseguir e nunca, nunca desistir.
Que venham os próximos anos, e novos desafios.

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