terça-feira, junho 13, 2006

Gente como a Gente

Engraçado como uma pequena estrofe de um poema, ou como um pequeno trecho de um livro, ou ainda uma frase dentre as milhares existentes em um texto pode falar tão profundamente ao nosso coração.
Às vezes o assunto é específico, mas o que toca nossa alma é algo que para muitos pode até passar despercebido.
Foi assim que aconteceu comigo enquanto lia sobre um texto no Colunet.
Como nas palavras de Marcos Soares “Muitos criticam a mulher de Jó por sua atitude e seus conselhos errados. O próprio Jó disse que ela estava falando como uma doida varrida. Mas pelo menos ela estava lá. Não fez como algumas mulheres, que abandonam seus maridos à própria sorte na hora da amargura. Ela também tinha sofrido perdas. Os filhos eram dela também. A 1ª dama do Oriente agora estava na rua da amargura. E ela ficou ali até o fim.”

Quem nunca sofreu algum tipo de perda?! Perdeu um lugar, um alguém, algo que doeu, causou doridas feridas, te fez pensar em desistir, não pela falta de esperança, mas simplesmente porque a dor tem esse atributo...embaça as vistas e não enxergamos muito, apenas queremos nos livrar de tão árduo sofrimento.
A mulher de Jó também perdeu os filhos, a mulher de Jó também ficou pobre. Não tinha mais as jóias que ela estava acostumada a usar. Não tinha as muambas para fazer o serviço da casa, aliás, nem a casa ela tinha mais. Quanto mais as roupas. Ela não podia mais estar na moda. Sua vida também virou de cabeça pra baixo. As reviravoltas da sua vida também machucaram sua alma.
Ainda mais naquela época em que a mulher não podia muita coisa. E talvez o fato dela não ter se calado demonstre que muito mais do que a falta de sabedoria que teve ao falar pro seu marido amaldiçoar a Deus e morrer, ela explodiu o que a estava implodindo. Talvez a dor que a atormentava por dentro foi maior do que a vontade e a certeza de permanecer calada.
Muitas vezes ficamos calados diante das nossas dúvidas e feridas. Deixamos que elas acumulem dentro de nós, que fiquem amontoadas, que nos firam ainda mais. Talvez pela posição que temos em algum lugar ou para alguém, demonstramos estar sempre bem e com uma postura de que nada nem ninguém é capaz de nos abalar o suficiente. Somos sábios o bastante para aceitar tudo e calados. Somos mesmo, ou somos covardes, e assim criamos máscaras?! Odres velhos.
Mas, então o que fazer?!
Diante do inesperado, do indesejável, do inafastável, do inexplicável...da dor que insiste e persiste?!
Sair por aí gritando, xingando e esbravejando?! Dizer em alto e bom som que Deus nos desamparou?! Que a nossa dor, as nossas lágrimas Ele simplesmente não vê?! Culpa-lo pela má sorte?!
Definitivamente não.
Mas, definitivamente também digo não para o cálice da amargura.
O que temos a aprender com a mulher de Jó é que ela também sofreu, ela também se desesperou. Sim, naquela época as mesmas dores, as mesmas percas eram duramente sentidas e sofridas. Causavam o mesmo desejo de arrancá-la para fora.
Mas não. Não precisamos falar como ela.
Como falar então?!
O melhor exemplo para seguirmos é de um nazareno chamado de Jesus, o Cristo. Ele foi humilhado, sofreu a pior das desilusões, foi traído com um beijo, foi ultrajado, maltratado, xingado. Esteve nu diante de uma multidão, a mesma que outrora o seguia e queria os seus milagres. Sofreu, sofreu e sofreu como nunca ninguém antes. Esteve cercado de amigos e um dia depois estava abandonado pelo próprio Pai.
E o que Ele fez?! O QUE ELE FEZ??????
Quem Ele culpou?! Quem Ele xingou?! A quem Ele buscou?!
“Pai, por que me desamparastes?” essa pergunta ecoou nos céus, ecoou no meu coração. Doeu. Mas, doeu muito mais na alma de quem essas palavras brotaram.
Esses sentimentos são inerentes aos homens. Somos de carne e osso e sofremos.
Por isso amados, se se sentirem sós, desamparados, fracassados, abandonados, corram para o Pai, porque Ele disse que nunca, nunca nos abandonaria. O mundo e as coisas deste mundo são traiçoeiras e falhas, mas Cristo não. Por mais que você atribua o seu fracasso e a sua dor à Ele, saiba que por amor a você Ele sofreu a pior dor...Ele obedeceu até a morte mesmo se sentindo só.
Se estiver com vontade de gritar, grite.
Se estiver com vontade de chorar, chore.
Se estiver com vontade de se revoltar, revolte.
Mas, faça tudo isso no silêncio do seu quarto porque é ali, onde ninguém te vê, que Cristo te sara, te cura, transforma o seu pranto em festa. Foi ali que Ele transformou os meus traumas em experiência, em vontade de ver outras pessoas transformadas, saradas.
O problema não está em falar da sua dor, mas para quem você fala e a maneira como você fala.
Fale com Ele. Que te escuta e te sara.
Que possamos aprender com os erros, com os acertos e que todo mundo é gente como a gente.

“e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” Mt. 28:20

Um comentário:

Anônimo disse...

O texto está ótimo. Já mandou pro Articulando?